RESENHA | Kindred: laços de sangue, de Octavia E. Butler

  


 Finalmente vim falar pra vocês sobre uma das melhores leituras que fiz esse ano: “Kindred: laços de sangue”, de Octavia E. Butler, a mãe da ficção científica! Tenho um clube do livro com minhas amigas e nos primeiros meses de clube decidimos ler Kindred. Pra vocês terem noção, tínhamos um mês para fazer a leitura, mas eu achei o livro tão incrível e fascinante que li em apenas quatro horas.

Octavia E. Butler é considerada a mãe da ficção científica e não é à toa. Ela entregou uma história bem amarrada, com uma escrita impecável e ainda cruzou questões como raça e história com ficção científica de uma forma assustadoramente brilhante.

Em “Kindred” acompanhamos Dana quando ela faz a sua primeira viagem no tempo. Ela estava em meio à caixas e pilhas de livro, pois ela e o marido estão de mudança para um novo apartamento. De repente, Dana sente tontura e cai de joelhos. Quando percebe, está na beira de um rio e vê um menino se afogando. Ela decide salvá-lo, mas quando volta às margens do rio, se depara com uma arma de fogo apontada para a própria cabeça. É um momento tenso, confuso e completamente aterrorizante para Dana, mas acontece de novo, e de novo... Rufus, o menino que ela salvou, é seu antepassado, e suas viagens no tempo acontecem sempre que ele – um menino/homem branco – está prestes a morrer. Quanto mais Dana viaja para a Maryland do século XIX, num período pré-Guerra Civil, mais perigoso se torna para ela voltar.

Durante toda a leitura, o sentimento que mais me acompanhou foi a aflição. Se a gente vai pensar em viagem no tempo com acontecimentos reais, imediatamente percebemos que nunca vai ser uma parada segura para pessoas pretas, pois a escravização de povos negros aconteceu há pouquíssimo tempo. É uma das questões que mais me tocaram durante a leitura. Fiquei o tempo inteiro refletindo sobre como eu, uma jovem do século XXI, que nasceu livre, iria sobreviver a uma situação como essa.

Chorei em vários momentos, principalmente quando Dana começa a “se acostumar” com certos comportamentos, pois ali a única realidade possível para ela era ser escravizada. E mesmo sendo nitidamente diferente dos outros negros da fazenda, mesmo sendo letrada, com acesso à informação e diversas outras “vantagens sociais” para aquela época, ela continuou sofrendo humilhações do mesmo jeito. Nada disso a impediu de sofrer violências e agressões.

Uma das coisas que mais me chamaram atenção e me deixaram realmente intrigada foi a complexidade da relação entre Rufus e Dana. É impossível não sentir profundo ódio de Rufus. É triste vê-lo crescer e se tornar o pior tipo de ser humano possível: um homem branco escravagista. Mesmo conhecendo Dana desde criança e entendendo que ela vinha de outro tempo – quando não existia mais a escravidão – e que estava sempre salvando-o, ele foi se tornando cada vez mais violento, cruel e racista. E ainda que o Rufus seja um personagem fácil de odiar, era complexa a relação que ele e Dana viviam, pois ela precisava salvá-lo para garantir a própria existência.

Foi um dos melhores livros que li na minha vida. Eu sou muito fã de ficção científica e foi surreal ler uma obra que tem protagonismo negro, mesmo trazendo questões tão profundas e dolorosas para pessoas pretas, ainda é uma obra que vale a pena ser lida. Eu li com curiosidade, aflição e com o coração. Foram muitas lágrimas e muitas reflexões ao terminar essa leitura.

Recomendo fortemente! Vá com coragem!


Título: Kindred: laços de sangue

Autora: Octavia E. Butler

Editora: Morro Branco

Páginas: 432

Ano: 2017


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