RESENHA | Sangue Dourado, de Namina Forna

 

Sabe aquele ditado que diz para não julgar um livro pela capa? Às vezes ir contra ele pode te surpreender, e foi o que aconteceu comigo em relação à Sangue Dourado. Foi um livro que logo me chamou atenção pela capa belíssima e foi assim que decidi adquiri-lo. Logo depois vi que a obra estava em várias listas de melhores fantasias de 2021 e isso só me deu ainda mais empolgação para ler, afinal ainda hoje é muito difícil encontrar obras de fantasia com protagonismo negro, por conta da invisibilidade desses autores e histórias no mercado editorial. Consumir cada vez mais ficção e fantasia com protagonismo negro foi um dos meus desafios literários de 2021 pra cá e só estou me surpreendendo positivamente com vários títulos.

Sangue Dourado segue Deka, uma jovem de 16 anos que está prestes a passar pela cerimônia de sangue, com o objetivo de descobrir se ela é ou não pura. No universo criado pela autora Namina Forna, as mulheres também vivem em condição de submissão, sendo obrigadas a passar por esse ritual, além de serem proibidas de mostrar o rosto ou usar facas até provarem que têm o sangue puro. No dia da cerimônia, a protagonista Deka descobre que é o que mais temia: uma garota de sangue dourado, ou seja, impura. Isso faz com que ela sofra consequências piores do que a morte, até ser resgatada por uma mulher misteriosa – que ela chama de Mãos Brancas – e partir para lutar pelo imperador e se tornar uma grande guerreira.

Quando se junta ao exército de alakis, Deka descobre que meninas como ela, que têm o sangue dourado, são extremamente poderosas, ágeis, fortes e praticamente imortais. Elas nasceram para serem guerreiras e essa força vai se potencializando à medida que Deka e outras meninas vão aprendendo sobre os próprios corpos. É uma obra que conta com uma belíssima escrita e que consegue exaltar os traços negros de forma brilhante. Namina Forna descreve – com maestria – cabelos crespos, mulheres negras de cabelo raspado e, principalmente, as expressões corporais de verdadeiras guerreiras negras. É uma escrita muito rica e muito potente, que utiliza elementos fantasiosos e lúdicos para tecer grandes críticas à sociedade que ainda insiste em ser sexista, misógina e racista, sempre colocando mulheres (principalmente negras) em lugar de submissão e fraqueza.

Ser uma mulher negra e ler Sangue Dourado é fantástico, porque realmente me senti como uma guerreira e descendente de deusas, reis e rainhas. É um livro que exalta a ancestralidade, as culturas negras e o poder que existe em cada mulher preta, mesmo que o mundo diga o contrário. É uma obra empoderadora, e aqui trazendo “empoderamento” em seu mais puro significado: esse livro me deu poder! O poder de saber que eu sou uma mulher valiosa, poderosa, forte, sensível e importante. Sangue Dourado tocou em pontos muito íntimos para mim como leitora, pois me fez lembrar do quanto eu sempre fui uma jovem apaixonada por literatura fantástica, mas nunca me enxerguei nas histórias. Eram sempre protagonizadas por personagens brancos, tendo apenas uma pessoa negra em um papel qualquer. Desta vez, uma menina como eu é protagonista, e eu espero que jovens negras tenham a oportunidade de ler essa obra e possam se ver em Deka ou qualquer uma das guerreiras – mulheres pretas – do livro.

Ansiosa para ler a sequência!


Título: Sangue Dourado

Autora: Namina Forna

Ano: 2021 / Páginas: 378

Editora: Galera Record

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